Governo francês desenvolveu medidas para auxiliar a compra de carros elétricos.
A escolha de um novo automóvel envolve vários fatores que irão nos influenciar em uma decisão final, desde o preço, vantagens, modelo e economia. Até pouco tempo atrás, esses eram os únicos fatores que contavam na hora da escolha, mas a partir de quando a opção da mobilidade elétrica deve entrar no hall de fatores importantes? Desde já!
Há pelo menos 3 anos, as questões climáticas têm se tornado tema constante e persistente em minha casa. As mudanças começaram com pequenas coisas, como a forma de descartar o lixo, reciclável e não reciclável, o uso de composteiras para o lixo orgânico, a troca de água mineral em garrafas de plásticos, ainda que não 100%, para o uso do filtro em barro, assim como a diminuição do consumo de produtos desnecessários que pudessem aumentar o nosso lixo não reciclável.
Somos uma família de cinco pessoas, dois adultos e três crianças, e tínhamos dois carros a diesel, que rodavam no mínimo 30 quilômetros, cada, diariamente. Apesar das boas intenções nas atitudes em casa, da porta para fora estávamos poluindo tanto quanto os outros, e isso nos incomodava.
Com a chegada da pandemia e os rastros de consequências que ela trouxe, como o aumento do preço do combustível e o aumento na eletricidade e no gás, colocamos os números na ponta do lápis e decidimos que estava na hora de mudar algo.
Vivo na França, na região de Moselle, fronteira com o Sarre, na Alemanha. Aqui, a circulação entre os dois países é diária e comum, ao ponto de os governos dos dois países desenvolverem leis e acordos válidos apenas para essa região, pela quantidade de trabalhadores pendulares, assim como estudantes que habitam os dois lados.
Viver nessa área me permite duas coisas: pagar menos impostos na França e usufruir dos preços mais baixos nos supermercados alemães, por exemplo. Uma espécie de equilíbrio econômico. Apesar de morar na França, sempre abasteci meu carro na Alemanha, pois, até o início do ano passado, ainda era possível pagar 1,09 euros pelo litro do diesel, muito abaixo do preço de 1,49 euros que era oferecido aqui na França.
No entanto, as coisas começaram a mudar de uns meses pra cá, especialmente após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que colocou os países europeus em estado de alerta com relação também à dependência do gás e do petróleo vindos da Rússia. Em outubro de 2021, a Alemanha ultrapassou seu próprio recorde no preço do litro do diesel, chegando a uma média de 1,55 euros por litro.
Até o momento, o país só havia registrado um aumento tão alto em 2012, quando o diesel chegou a 1,54 euros o litro. A partir desse momento, os números subiram cada vez mais, chegando a alcançar 2,14 euros em março deste ano.
Quando os reajustes começam a pesar no bolso, chega a hora de agir. Como disse anteriormente, rodar 30 quilômetros diariamente com o diesel a quase 2 euros o litro estava insustentável. Aqui, iniciamos nossa busca para realizar algo que já almejávamos havia algum tempo: a compra de um carro elétrico.
Junto com a decisão chegaram as dúvidas a respeito. Como carregamos a bateria? Podemos fazer em casa ou apenas em pontos de carregamento? Irá aumentar muito nossa conta de energia? Quais são os tipos de cabo para carregar um carro elétrico?
Um mundo novo para nós, que só estávamos acostumados a outro tipo de veículo, mas essas inseguranças foram desaparecendo ao longo das nossas buscas por informações. Esse tipo de veículo não está entre os mais baratos, principalmente em se tratando de modelos mais novos. Então, como conseguir viabilizar a compra de um E-car?
Durante nossas buscas na internet e visitas a concessionárias, descobrimos que o governo francês desenvolveu medidas para auxiliar a compra de carros elétricos, para empresas ou pessoas físicas. Esse tipo de incentivo, apesar de cair como uma luva no momento atual, surgiu em 2020, como medida do governo para auxiliar o setor automobilístico, que passava por crise.
Através dessas medidas de auxílio, a França beneficia não apenas o setor de automóveis, mas tudo que colabora na diminuição de emissão de CO₂ , tirando os veículos mais poluentes de circulação, incentiva a compra de carros menos poluentes, sejam elétricos, híbridos ou movidos a combustíveis fósseis, desde que estejam dentro das normas e limites de emissão de carbono, fazendo assim o mercado girar.
Quais incentivos a França oferece e como funcionam?
Atualmente, o governo oferece alguns tipos de auxílios que dependem da necessidade de cada grupo. Por exemplo:
– Bônus ecológico: um benefício de até 6 mil euros na compra de carros novos com valor inferior a 45 mil. Para automóveis com valores entre 45 mil e 60 mil euros, esse benefício cai para até 2 mil euros. Tanto empresas como compradores privados podem receber o bônus;
– Primeira conversão: é uma opção para quem deseja entregar o seu carro a diesel ou gasolina como uma forma de “entrada” na compra de um carro elétrico, seja novo ou usado. Nesse caso, o seu carro anterior será entregue para destruição e você pode receber um bônus entre 2.500 e 5 mil euros na compra do seu novo veículo. O valor do benefício é definido de acordo com a renda anual do comprador;
– Bônus regional: engloba cidades com alta emissão de carbono, como Paris, ou metrópoles com certificado de baixa emissão de carbono, como Lyon. Os bônus aqui são definidos de acordo com as exigências e necessidades de cada região.
No meu caso, optamos pelo auxílio “primeira conversão”, na compra de um veículo elétrico de segunda mão. Para obter esse tipo de auxílio, o comprador precisa ter alguns requisitos, como ser maior de idade, morar no país, entregar o seu carro antigo para destruição, além da documentação que comprove sua renda.
Para famílias com renda abaixo de 13.489 euros, o benefício pode ser concedido até o valor máximo, que é de 5 mil euros. No caso de rendas anuais iguais ou superiores a esse montante, o valor do benefício cai para 2.500 euros. Atualmente, essas regras são as mesmas implantadas até 31/12/2022. No entanto, o governo já anunciou algumas mudanças que devem entrar em vigor a partir do dia 1 de julho.
A partir do próximo mês, quem desejar obter o bônus do governo na compra de um carro novo, elétrico ou híbrido, deve seguir as novas exigências. Dentre as novas regras estão:
– O padrão de emissão de CO₂ reduzido para um máximo de 20 g/km, o que anteriormente era de 50g/km;
– Redução do valor do bônus a partir do primeiro de julho. Para veículos com um custo de aquisição inferior a 45 mil euros, haverá uma redução de 1000 euros no bônus, de 6 mil para 5 mil euros, em caso de pessoa física. Para as empresas, o valor do subsídio cai de 4 mil para 3 mil euros.
Para quem ainda deseja usufruir do bônus antes da alteração, poderá encomendar seu veículo até 30 de junho, e contratos de compra ou aluguel finalizados até 30 de setembro também poderão utilizar o bônus antes da redução, prevista para 1 de julho.
No caso do bônus de primeira conversão, que permite ao motorista substituir seu carro antigo por um carro mais novo e menos poluente, serão mantidas as mesmas condições e valores atuais até 31 de julho de 2022, até segundas alterações.
Depois de obter as informações a respeito do auxílio do governo, o segundo passo foi escolher o veículo. Já possuímos um carro de grande porte, com 7 assentos, o qual gostaríamos de manter, por isso decidimos entregar nosso carro menor, um Audi a diesel, e trocar por um do mesmo porte.
Optamos então por um Zoe, da Renault, modelo que custa entre 8 mil a 14 mil euros, quando usado. Após a escolha do veículo, entregamos à concessionária a documentação necessária para o requerimento do auxílio, que é feito diretamente entre o vendedor e a repartição do governo responsável.
Após a análise de documentos, como os comprovantes de imposto de renda dos últimos 2 anos, foi definido o valor do auxílio concedido, que foi de 2.500 euros. Esse montante, no entanto, foi transferido diretamente para a loja, que abateu esse valor no preço final do carro.
Com a aprovação, a própria concessionária se responsabilizou em transportar nosso antigo carro para ser levado para o depósito onde seria inutilizado. Documentações aprovadas, auxílio concedido, carro antigo entregue e negociação de pagamento, em um mês conseguimos concluir a compra.
É válido ressaltar que, para o carro que adquirimos, um modelo Zoe ano 2017, foi necessário fazer um contrato de aluguel de bateria, pois apenas os carros produzidos após 2020 já têm a bateria inclusa no preço da compra. Na hora de comprar um carro elétrico, você pode optar por alugar ou comprar a bateria. O fato é que a compra da bateria aumenta consideravelmente o valor total do carro, cerca de 7 mil até 9 mil euros a mais.
Quando você compra a bateria, talvez possa ter uma facilidade maior para vender o carro, futuramente, no entanto, a vida útil da bateria de um carro elétrico é entre 10 e 12 anos, e o custo de aquisição de uma bateria é equivalente a 100 meses de aluguel, ou mais de 8 anos de uso.
No caso do aluguel, o preço total cai, você tem garantia em caso de defeitos e pode renovar o contrato do aluguel ou cancelar, no caso que deseje vender o veículo. Frequentemente, os contratos de aluguel incluem serviços adicionais, como manutenção ou assistência. No nosso caso, optamos pelo aluguel da bateria, que é de no máximo três anos, podendo ser renovado. A decisão partiu da questão do tempo que desejamos ficar com o carro.
Como a ideia seria trocá-lo antes que ele perca valor no mercado, achamos que o alto investimento no preço da bateria não seria o ideal nesse momento. Outro fator foi a questão da garantia. Quando você compra bateria e ela vai perdendo a potência após um certo tempo de vida, você não tem garantia para troca. Em casos como estes, a opção será investir na compra de uma nova bateria ou partir para o aluguel.
Com o carro em mãos, chegou a hora de colocar em prática o que buscamos a respeito de ter um carro elétrico. Carregar em casa, em pontos gratuitos ou estações de carregamento pagas? Sim, você pode utilizar todas essas opções.
Tanto na França como na Alemanha é possível recarregar seu carro em bases gratuitas que estão distribuídas em estacionamentos de supermercados, lojas ou pontos distribuídos pela prefeitura da cidade. No meu caso, sempre utilizo as bases em estacionamentos de supermercado, o que é muito prático para mim.
Enquanto faço as minhas compras, meu carro fica carregando. Cada cliente pode carregar seu veículo por até uma hora, tempo suficiente para carregar a bateria do meu carro para um autonomia de até 130 km, se eu chegar com pelo menos 30 km já carregados, ou seja, durante esse tempo, posso carregar um total de 100 km.
A única desvantagem nessa opção é que você precisa escolher os horários menos movimentados, pois corre o risco de chegar e ter todas as bases ocupadas. No entanto, você pode ver no visor das estações quanto tempo ainda falta para cada carro concluir o carregamento e, caso não tenha pressa, pode esperar mais um pouco e conseguir uma vaga.
Outra opção são as estações para carregamento pagas. Elas estão em maior quantidade e espalhadas pela cidade, o que facilita quando você está com a bateria prestes a descarregar e não tem uma outra forma de carregar por perto. Existem várias operadoras que oferecem esse serviço, mas para utilizá-lo é necessário fazer um cadastro.
Primeiro, você precisa escolher a operadora na qual deseja se cadastrar. Algumas não cobram para produzir o cartão de cliente, já outras cobram uma pequena taxa. Normalmente, as empresas que oferecem o cartão gratuito costumam ter o preço do kWh mais alto do que o das demais – por isso é importante pesquisar bem antes de escolher uma das opções.
O preço do kWh, o equivalente a 6,86 km rodados, chega a custar 0,30 até 0,40 centavos de euros nas estações pagas na Alemanha. No entanto, dependendo da operadora e do pacote de serviços que você paga, esse valor pode cair. A vantagem desse tipo de sistema é que você não tem limite de tempo para carregar seu veículo.
Algumas pedem que os clientes utilizem as bases por no máximo quatro horas, tempo após o qual normalmente a bateria já está totalmente carregada, dependendo também da potência da estação. Carregar em casa é, claro, mais confortável, mas vale a pena? Neste caso precisamos fazer uma comparação com o carro anterior.
Com o carro a diesel, gastávamos cerca de 142,50 euros por mês para rodar 1000 km. Com a compra do elétrico, vimos o consumo da nossa conta mensal de energia dobrar de 204 kWh para 406 kWh. Em moeda, isso quer dizer que passamos a pagar cerca de 25,52 euros a mais do que anteriormente, para um valor de 0,17 centavos de euro por kWh, dentro da França.
No entanto, precisamos levar em consideração o valor do aluguel da bateria, que custa 79 euros. Com isso, por mês, circulando 1000 km com o carro elétrico, gastamos um total de 104,52 euros, ou seja, 37,98 euros a menos do que os gastos com o carro a diesel.
O preço do kWh, o equivalente a 6,86 km rodados, chega a custar 0,30 até 0,40 centavos de euros nas estações pagas na Alemanha. No entanto, dependendo da operadora e do pacote de serviços que você paga, esse valor pode cair.
A vantagem desse tipo de sistema é que você não tem limite de tempo para carregar seu veículo. Algumas pedem que os clientes utilizem as bases por no máximo quatro horas, tempo após o qual normalmente a bateria já está totalmente carregada, dependendo também da potência da estação.
Carregar em casa é, claro, mais confortável, mas vale a pena? Neste caso precisamos fazer uma comparação com o carro anterior. Com o carro a diesel, gastávamos cerca de 142,50 euros por mês para rodar 1000 km. Com a compra do elétrico, vimos o consumo da nossa conta mensal de energia dobrar de 204 kWh para 406 kWh. Em moeda, isso quer dizer que passamos a pagar cerca de 25,52 euros a mais do que anteriormente, para um valor de 0,17 centavos de euro por kWh, dentro da França.
Ao todo, uma economia de cerca de 40 euros e algumas vantagens a mais, como possibilidade de recarregar a bateria de forma gratuita, preço do veículo através do subsídio do governo e por último (diria que até mais importante): zero emissão de CO₂.
Outro fator importante é a redução de gastos com manutenção, pois veículos elétricos não precisam de troca de óleo, têm menos desgastes dos freios e não têm necessidade de substituição de sistemas de embreagem.
Segundo o IFA (Instituto de Economia Automotiva), através de um estudo da Universidade de Ciências Aplicadas de Nütringen-Geislingen, os gastos com oficina podem ser até 35% inferiores nos carros elétricos em comparação com os carros comuns.
De acordo com a pesquisa, em um período de oito anos, em carros que percorrem cerca de 8 mil quilômetros por ano, os custos de manutenção de automóveis com motores de combustão foram calculados em um total de 3 650 euros. Nos carros elétricos, esse valor é de apenas 2 350 euros.
Com o carro anterior, a diesel, tínhamos um gasto anual de cerca de 200 euros, com a inspeção de controle do TÜV e eventuais trocas de óleo, velas ou filtro. Com o carro elétrico, que dispensa qualquer necessidade de reparo como as citadas anteriormente, o previsto é que o gasto anual, fixo, se limite ao controle técnico, que custa cerca de 80 euros.
Há cinco meses utilizando o carro elétrico, só tenho pontos positivos com relação a essa escolha. Para mim e para minha família, isso foi um passo a mais na busca de cooperar com a transição energética que a Europa vive, além de mostrar aos nossos filhos como o desenvolvimento de tecnologias no setor de energias renováveis é importante para um clima futuramente melhor.
Segue relato da jornalista Daniele Haller, para o Canal Solar. Ela vive na Europa há 12 anos e é correspondente de diferentes canais de comunicação no Brasil.